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O Largo das Forras é mais do que a principal praça de
Tiradentes, mas o verdadeiro coração da cidade. Para os habitantes, trata-se de
um ponto de encontro em que é possível jogar cartas, ver apresentações
culturais, descansar sob as árvores ou simplesmente conversar. Para os
visitantes, um bom ponto de partida para começar a explorar o Centro Histórico,
além de concentrar grande quantidade de pousadas, bares, restaurantes, lojas de
artesanato e produtos típicos e serviços de informação aos turistas. É um ótimo
lugar para curtir de dia e à noite, quando as luzes dão ainda mais charme à
região. Em um dos lados do Largo saem os famosos passeios nas charretes
coloridas de Tiradentes.
Localizada em um imponente casarão do século XVIII, a Secretaria de Cultura e Turismo (no mesmo prédio da Prefeitura Municipal) fornece informações relevantes sobre atrações turísticas, hospedagem e alimentação. O Largo também tem a presença da Capela do Bom Jesus da Pobreza, datada do século XVIII, além de uma pequena Capela dos Passos, em atividade na Semana Santa.
O Largo das Forras é um dos espaços de maior fluxo de pessoas na cidade de Tiradentes e se apresenta como um lugar repleto de signos que instigam uma interpretação, um espaço de memória, um patrimônio nacional.
Informação importante : Fique atento ao fato de que nem todos os restaurantes aceitam cartões de débito ou crédito e não abrem todos os dias da semana. Alguns restaurantes só abrem nos fins de semana, outros não abrem nas segundas ou nas terças, ou seja, a dinâmica de uma cidade pequena é bem distinta das grandes cidades e é preciso estar preparado, porque às vezes programamos de conhecer um local e o encontramos fechado.
O Tombamento do Largo das Forras
O Largo das Forras, juntamente com todo o centro histórico de Tiradentes, foi designado patrimônio nacional em 1938 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN, hoje IPHAN). Nesse momento a política de preservação do patrimônio brasileiro se encontrava em construção, tendo o próprio SPHAN sido criado há apenas um ano.
Como instrumento para proteção da cidade de Tiradentes, em 1938 utilizou-se o tombamento de sítio histórico. Isso significa que os bens imóveis não foram registrados e valorados individualmente, mas em seu conjunto. Tiradentes, bem como as demais cidades mineiras tombadas no período, passou por um processo de tombamento bastante inovador para o seu tempo – o tombamento de conjunto.
No caso do tombamento de Tiradentes de 1938, em consonância com a ideologia de seu período (paradigma da cidade-monumento), houve prevalência do valor estético (ou artístico) em detrimento do valor histórico (ou documental). O que se tombou em 1938, portanto, foi a estética da paisagem urbana existente e o etilo arquitetônico colonial – recém definido referência identitária nacional. Ocorre, no entanto, que vários imóveis antigos se encontravam em estado lastimável quando ocorreu o tombamento. Havia ruínas, construções que não seguiam o estilo colonial e havia, sobretudo, muitos vazios urbanos. Se na cidade os vazios eram comuns, no Largo das Forras (então espaço periférico, como apresentaremos mais adiante) as lacunas representavam mais da metade dos espaços disponíveis – que são atualmente ocupados por construções. No início do século XX todo o norte do Largo, às margens do Ribeiro de Santo Antônio, não era ocupado, também não existiam construções próximas ao sobrado da antiga prefeitura e próximas à ponte de pedra.
Proceder ao preenchimento de vazios em centros históricos é uma decisão polêmica. No caso do Largo das Forras, houve um incentivo para que os vazios fossem preenchidos logo após o tombamento. Deve-se, nesses casos, optar por uma arquitetura mimética (também conhecida como “estilo patrimônio”) nesse caso o barroco mineiro do período colonial. São também chamados pejorativamente de “estilo patrimônio” e criticados por criarem um “falso histórico”, isto é, induzirem o observador à crença de que aquela arquitetura pertence a um outro período.
AS ORIGENS DO LARGO E SUA DESCONSTRUÇÃO
O Largo das Forras não teve sempre o espaço central que ocupa em Tiradentes hoje. No início da ocupação, no século XVII, era apenas um espaço residual na entrada da cidade, como coloca Salgado (2007:31): “No início da formação da cidade de Tiradentes, observam-se duas grandes áreas localizadas no extremo da vila que precediam a entrada de viajantes, o largo das Forras e a Praça das Mercês que possuíam características espaciais de terreiros, local de transição entre as estradas e as ruas, entre o espaço civilizado urbano e a mata.”
Durante o período colonial a posição do Largo – na parte baixa e alagadiça da cidade – contribuiu para sua designação de zona de serviços que se estabeleceu em contraste com a zona alta da cidade – próxima à Matriz e Câmara – residencial e símbolo de poder.
No século XIX o Largo servia principalmente para estacionamento de carros de boi e carroças, além de espaço para a formação das tropas da milícia. Sua superfície plana e a ausência de mobiliários urbanos no espaço onde hoje há a praça se adequavam perfeitamente a essas necessidades. Desse século ainda restam a ponte de pedra, a Capela do Passo, construída em 1807 com material retirado de dois outros passos que foram demolidos, o sobrado onde funcionou por anos a prefeitura (construção estimada em meados do século XIX) e a maior parte das edificações do sul da praça - com inúmeras e não bem documentadas modificações.
Alguns anos antes do tombamento, em 1892, foi criado um primeiro jardim com formatos poligonais no Largo das Forras em comemoração à República instituída há três anos e à mudança do nome da cidade de São José para Tiradentes – homenagem ao inconfidente Joaquim José da Silva Xavier, natural da cidade. Junto com o jardim foi construído o Monumento Tiradentes.
A escolha do Largo das Forras para a localização do monumento demonstra que algumas décadas antes do tombamento já havia a intenção de valorizar aquele espaço. Apesar de ser um espaço residual e fora da centralidade principal da vila colonial, o Largo era usado frequentemente para realização de eventos que exigissem grande concentração de pessoas, montagem de palcos ou palanques. No final do século XIX sua localização e imagem não eram valorizados como são atualmente, mas o Largo tinha valor por seu formato espacial (plano) e sua proporção (ampla).
O tombamento de 1938 trouxe uma valorização externa e um novo olhar para o Largo das Forras – ele agora era patrimônio e como tal deveria receber um tratamento especial. Nesse mesmo ano foram plantados os fícus na praça, um cuidado com a estética que demonstra uma preocupação com o recém-declarado patrimônio. Nessa intervenção urbana a praça ganha formato poligonal e jardim geométrico desenhados por Burle Marx.
A despeito do tombamento realizado em 1938, logo no início da década de 1940 e sem autorização do IPHAN, Lourenço Campos desmancha o segundo andar do sobrado em frente à prefeitura, retira a porta central (colocada na lateral da Igreja de Bom Jesus da Pobreza) e substitui por um portão. Esse local passa a funcionar como garagem para seu ônibus. Rodrigo Melo Franco de Andrade (1997:77) reconhece que há um problema generalizado nas cidades tombadas em Minas quando afirma que “apesar do tombamento, parte considerável das cidades aludidas têm sido desfiguradas mais ou menos gravemente”.
Na década de 1960 Francisco Araújo Lourenço (conhecido como Chiquinho do Bar) doa parte do seu terreno para abertura da Rua dos Inconfidentes, ao lado da Igreja de Bom Jesus da Pobreza. Até então havia apenas um beco, mas sentiu-se a necessidade de abrir espaço para o tráfego de veículos. Só então o Largo passa a ter as quatro entradas (ruas) que o configura até os dias de hoje. A rua também se modificou. Segundo o inventário turístico municipal, “entre 1959 e 1963 o antigo calçamento de pé de moleque setecentista foi substituído por grandes lajes de quartzito extraídas da Serra de São José”.
O Largo da Forras foi, aos poucos, se desfazendo do estigma de espaço de serviço / área periférica. Desde a inserção do monumento Tiradentes e sobretudo depois do tombamento de 1938, o espaço foi ganhando novas formas e significados. No final da década de 1960 o Largo pode ser considerado um espaço central e símbolo de poder, já que possui uma capela (Bom Jesus da Pobreza) e um Passo representando a Igreja Católica (expressiva e poderosa em Tiradentes), o Monumento Tiradentes (monumento cível símbolo da república e homenagem ao inconfidente natural de São José) e a Prefeitura Municipal (transferida para o sobrado em 1961), além de se tornar um dos principais espaços públicos e sede de eventos da cidade.
A criação de uma nova imagem somada à refuncionalização do Largo das Forras (processo que aqui estamos chamando de desconstrução) durou aproximadamente quatro décadas. Nas décadas de 1960 e 1970 foi ocorrendo uma progressiva ocupação dos últimos vazios da praça e surgindo de usos comerciais locais como o Grêmio Recreativo de Lourenço Campos, o Correio de Francisco Barbosa, o Restaurante de Mitula (Geraldo Conceição), o banco Bamerindus, o posto de gasolina e as primeiras pratarias. Este novo espaço era muito diferente daquele criado no século XVIII. Pode-se dizer, portanto, que o Largo das Forras foi construído como um espaço marginal no século XVIII, desconstruído enquanto espaço marginal no século XX (até 1970) – tornando-se espaço central com apropriação de famílias tradicionais e concentração de símbolos de poder. No final do século XX esse espaço (construído e desconstruído) foi reconstruído enquanto um novo espaço, especificamente um espaço de consumo, um território turístico.
No Largo das Forras é difícil datar com precisão todos os bens imóveis, pois não há documentação disponível para as construções mais antigas. Em relação aos imóveis antigos há datação precisa apenas da Capela de Bom Jesus da Pobreza (1782) e da Capela do Passo (1807). Há relatos e indícios de que o casarão da prefeitura seja setecentista, mas não foram encontrados registros. Aproximadamente 10% das construções são setecentistas, um pouco mais de 20% oitocentistas e quase 70%, a grande maioria, são intervenções do século XX.
Nesse sentido, a cidade de Tiradentes vem se desenvolvendo lentamente e criando sua solução própria para as questões duais de preservação e “tabula rasa”, tradição e inovação e buscando, dessa forma, seu modelo único e próprio de gestão do patrimônio.
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