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As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram as primeiras a se instalarem em Minas Gerais. Reflexo do grande número de escravos na região das minas foram também as mais numerosas. No censo de 1808 Na Vila de São José del Rei, enquanto 30,7% da população era constituída de brancos, 69,3% eram pretos e mulatos.
A Igreja do Rosário em Tiradentes é um dos melhores
exemplares de templos construídos pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em
Minas Gerais e um dos principais bens históricos de Tiradentes.
Assim como as outras, a igreja teria sido construída pelos negros escravos de
Tiradentes, porém essa seria a igreja construída por eles e para eles.
Localizada na Rua Direita, foi construída entre 1708 e 1719 e é considerada a mais antiga da cidade. Até aí tudo parece muito básico, historicamente falando, mas as circunstâncias da construção fazem toda a diferença. Entrando no templo, não se engane, tudo que reluz – sim – é ouro. Ouro “roubado” pelos escravos nos garimpos e trazido clandestinamente em cabelos e unhas para a Igreja. Por essa razão, a porta principal nunca era aberta. O único acesso era uma pequena porta lateral que, uma vez aberta, não permitia que o ouro que ornava o altar fosse visto por quem passasse nas imediações. Reza a lenda que o único branco ciente de tudo era o Padre, “cúmplice” dos negros.
A riqueza inesperada da decoração guarda consigo uma série de pormenores contraditórios e intrigantes e, enriquecendo o enredo histórico, a presença de alguns símbolos alheios ao contexto católico narram silenciosamente uma história de segregação, fé e abnegação. É possível encontras símbolos das religiões africanas, principalmente do candomblé, fruto do contato com diversos credos vivenciados pelos escravos.
A meia lua, no teto do altar fazem referência ao fato da Igreja ter sido construída à noite, único tempo livre que os escravos tinham para a construção.
A imagem de Santo Estebão é uma das principais atrações da igreja Nossa Senhora do Rosário. Fiéis pedem ajuda ao santo para a compra da casa própria e retornam à igreja para agradecer e deixar pequenas casinhas próximas à imagem do santo, como prova da graça alcançada. Elesbão foi um rei negro, cristão fervoroso, que viveu na Etiópia no século VI.
Arquitetura e ornamentação
A primitiva capela começou a ser construída em 1708 e foi concluída em 1719. Ao longo do século, foi passando por diversas modificações, quando a arquitetura e a decoração foram aprimoradas. “A privilegiada localização da igreja de Nossa Senhora do Rosário – num grande adro, bem no centro geográfico da área urbana – comprova sua importância histórica como núcleo de onde se propagou a urbanização da cidade.”
Provavelmente, foi a partir de 1760 que passou por reformas na parte arquitetônica e decorativa. A construção foi refeita em alvenaria, e a posição do sino manteve a solução tradicional de Tiradentes, com a sineira incorporada ao corpo da igreja. Devido ao trabalho de cantaria, não apresenta aparência de fragilidade das capelas de adobe.
A sobriedade da fachada com seu belo frontão terminado em volutas e o trabalho da portada lhe conferem um certo ar imponente, apesar de não ser um templo de grandes proporções. Ainda na fachada, colocada em um nicho, está a imagem de São Benedito, um dos mais populares santos negros na colônia.
As fendas na parede da única torre e abaixo dos degraus, eram estrategicamente dispostas para dispersar o mau cheiro vindo dos corpos enterrados no interior da Igreja, já que a porta principal nunca seria aberta:
Tem uma planta simples que segue os padrões barrocos mais comuns, com uma nave única e uma capela-mor ao fundo, ladeada de duas sacristias. Um consistório foi construído na lateral da nave.
A primorosa talha de transição do Joanino para o Rococó, a pintura em tons de bege e o douramento conferem uma atmosfera envolvente ao interior da pequena capela. A execução do douramento é de Antônio da Costa Souza. Completando o conjunto decorativo da capela-mor, o forro traz uma pintura ilusionista que representa São Francisco de Assis e São Domingos recebendo o rosário de Nossa Senhora. Provavelmente foi executado na primeira metade do século 19.
No coroamento do retábulo, há uma tarja com uma lua em baixo-relevo. A representação da lua junto a iconografias de Nossa Senhora tem como referências : a citação da representação da Virgem no Apocalipse - “um grande sinal apareceu no céu, uma mulher vestida de sol, a lua debaixo dos pés, e uma coroa na cabeça” Ap 12, 1 ; a frase do Cântico dos Cânticos - “quae est ista quae progreditur quase aurora consurgens pulchra ut luna electa ut sol terribilis ut ucus ordinata” ou seja “Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército com bandeiras.”
Uma música do século 17 chamada Vespro della Beatta Vergine traz os versos: “ dic nam ista pulchra ut luna electa ut sol, replet laetitia terras,coelos, Maria” - diz-me que esta mulher é bela como a lua, radiante como o sol, que enche de alegria a terra e os céus, Oh Maria!
Os dois retábulos laterais possuem elementos decorativos do Joanino e Rococó e são dedicados a dois santos negros: São Benedito e Santo Antônio de Cartegerona.
O forro da nave é dividido em dezoito caixotões, conforme esquema a seguir, e suas pinturas representam os mistérios do rosário e trechos da ladainha de Nossa Senhora. A execução é do grande pintor mulato da região, Manuel Victor de Jesus, que foi ativo até a data de sua morte, em 1822.
Rosário é uma oração católica – de devoção à Virgem Maria – composta, originalmente, por três terços, cada terço com cinco mistérios. Cada mistério recorda uma passagem importante da história da salvação, o que, por sua vez, está representado no teto da Igreja conforme esquema a seguir:
Forro da Nave |
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Arco Cruzeiro |
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Gozozos |
Gloriosos |
Dolorosos |
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Jesus entre os doutores |
Coroação de Nossa Senhora |
Cálice da amargura |
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Circuncisão |
Assunção de Nossa Senhora |
Senhor da Coluna |
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Visitação |
Pentecostes Aparição do Espírito Santo |
Senhor coroado de espinhos |
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Natividade |
Ascensão do Senhor |
Senhor dos Passos |
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Anunciação |
Ressurreição do Senhor |
Crucificação |
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Casa de Ouro |
Arca da Aliança |
Chave do Céu |
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Coro |
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Negros e Nossa Senhora do Rosário
Escravizados no Brasil, os negros africanos não tinham permissão para acreditar. A sua fé era controlada porque era considerada perigosa: ao se conectarem com as suas crenças de África, eram mais fortes e esperançosos do que interessava para o sistema de então.
Mas era preciso sobreviver a tantas restrições: ensaios de inventividade eram colocados em prática todos os dias para imaginar mundos invisíveis onde seriam abraçados pela esperança.
Assim, as divindades do Candomblé são sincretizadas nos santos Católicos, enquanto aparentam adorar a religião de seus senhores, os escravos continuam praticando a sua fé original. Nesse sincretismo, Oxum é cultuado através das imagens de Nossa Senhora do Rosário e os guizos africanos maquiados do Rosário da virgem.
VISITAÇÃO:
A Igreja está aberta à visitação das 09 às 17h. A entrada custa R$ 5,00. É permitido fotografar, desde que SEM flash.
R. Joaquim Eliziário Dias, 320 - Parque das Abelhas, Tiradentes - MG, 36325-000, Brasil
Email: villaalferes@villaalferes.com.br Reservas: (32) 3355 1752 - Whatsapp: (32) 98887 4406